quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

5. A Grande Causa

Matt Marriott, Tony Weare

"Plano de Acção da Matemática!"- repetiu, enfático, o Grande Chefe. "Tem um je ne sais quoi de aventura, de apelo à acção, de... juventude. Vai ser um sucesso". Felizmente, levantou-se e começou a passear pela sala, enquanto discorria sobre o plano. "É preciso fazê-los respirar Matemática, comer Matemática. Flocos de cereais com exercícios de Matemática, enigmas de resolução obrigatória para poderem almoçar ou jantar, equações do segundo grau para terem entrada no cinema. Dentro de duas gerações, a primeira palavra que as crianças irão dizer é π, o brinquedo mais desejado, uma tabuada!". Aproximou-se de mim e colocou-me um braço em volta dos ombros. "Meu caro professor, ambos somos homens de ciência. Nada dessas mariquices das filosofias, das artes ou da história". Abanei entusiasticamente a cabeça. "Somos homens de ciência, A SÉRIO! Sabemos que o progresso se constrói com Matemática e se destrói com filosofias". "E com histórias!"- acrescentei cada vez mais entusiasmado. "Muito bem dito, professor. A História é o atilho que faz tropeçar o caminheiro! Sempre com comparações, com interpretações subjectivas, com atenção aos pormenores. Autêntica ferrugem que impede o avanço da máquina. Por isso, vamos acabar com toda essa tralha”. Fez uma breve pausa, olhando-me fixamente, como se quisesse ter a certeza de que o estava a compreender. “Prepare-se para o que vai ouvir, porque só lho vou dizer uma vez. Será um segredo que você terá de guardar, se necessário for com sacrifício da própria vida. Sente-se preparado?”. A funcionária deslocou-se para a minha frente. Tirou os óculos e olhou-me nos olhos, aguardando pela minha resposta. “Pode contar comigo, Grande Chefe!” Na verdade, para acabar com a malta da História, estava disposto a tudo. “Não esperava outra coisa de si. Nós vamos impor a Matemática como disciplina única em toda a escolaridade obrigatória”. Não consegui evitar abrir a boca de espanto. “Não se esqueça do Português, Grande Chefe”- corrigiu a funcionária. “Sim, sim. Parece que a miudagem precisa de saber ler e escrever, para interpretar os enunciados. Enfim, a malta da Educação está a tentar resolver esse problema. De qualquer modo, 90% do tempo passado na escola, será dedicado à Matemática. A Pátria estará salva!”

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