segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
7. Ecce homo
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
6. A metamorfose
quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
5. A Grande Causa
"Plano de Acção da Matemática!"- repetiu, enfático, o Grande Chefe. "Tem um je ne sais quoi de aventura, de apelo à acção, de... juventude. Vai ser um sucesso". Felizmente, levantou-se e começou a passear pela sala, enquanto discorria sobre o plano. "É preciso fazê-los respirar Matemática, comer Matemática. Flocos de cereais com exercícios de Matemática, enigmas de resolução obrigatória para poderem almoçar ou jantar, equações do segundo grau para terem entrada no cinema. Dentro de duas gerações, a primeira palavra que as crianças irão dizer é π, o brinquedo mais desejado, uma tabuada!". Aproximou-se de mim e colocou-me um braço em volta dos ombros. "Meu caro professor, ambos somos homens de ciência. Nada dessas mariquices das filosofias, das artes ou da história". Abanei entusiasticamente a cabeça. "Somos homens de ciência, A SÉRIO! Sabemos que o progresso se constrói com Matemática e se destrói com filosofias". "E com histórias!"- acrescentei cada vez mais entusiasmado. "Muito bem dito, professor. A História é o atilho que faz tropeçar o caminheiro! Sempre com comparações, com interpretações subjectivas, com atenção aos pormenores. Autêntica ferrugem que impede o avanço da máquina. Por isso, vamos acabar com toda essa tralha”. Fez uma breve pausa, olhando-me fixamente, como se quisesse ter a certeza de que o estava a compreender. “Prepare-se para o que vai ouvir, porque só lho vou dizer uma vez. Será um segredo que você terá de guardar, se necessário for com sacrifício da própria vida. Sente-se preparado?”. A funcionária deslocou-se para a minha frente. Tirou os óculos e olhou-me nos olhos, aguardando pela minha resposta. “Pode contar comigo, Grande Chefe!” Na verdade, para acabar com a malta da História, estava disposto a tudo. “Não esperava outra coisa de si. Nós vamos impor a Matemática como disciplina única em toda a escolaridade obrigatória”. Não consegui evitar abrir a boca de espanto. “Não se esqueça do Português, Grande Chefe”- corrigiu a funcionária. “Sim, sim. Parece que a miudagem precisa de saber ler e escrever, para interpretar os enunciados. Enfim, a malta da Educação está a tentar resolver esse problema. De qualquer modo, 90% do tempo passado na escola, será dedicado à Matemática. A Pátria estará salva!”
segunda-feira, 29 de janeiro de 2007
4. A ameaça
domingo, 28 de janeiro de 2007
3. O corredor até ao gabinete do Grande Chefe
sexta-feira, 26 de janeiro de 2007
2. Ao encontro do Grande Chefe
quinta-feira, 25 de janeiro de 2007
1. O primeiro contacto
Quando ía a entrar na sala de professores, aconteceu cruzar-me com o tipo. Fez-se de simpático, abriu a porta e deu-me passagem. Disse-lhe secamente que não entrava e evitei conversas. Foi essa coincidência que me fez dar de caras com a telefonista que me disse "choutour, tem ali dois senhores que querem falar consigo". Estranhei, até porque não sou director de turma, pelo que estou safo de aturar papás individualmente e, sobretudo, aos pares. Logo pensei que devia ser alguém de uma qualquer editora e até pensei "calha bem porque estou a precisar de uma agenda nova".
Quando vi os sujeitos, fiquei de pé atrás. Gabardine com gola subida, óculos escuros, ar de permanente alerta. Rapidamente avaliei a situação, mas não encontrei motivo para tão estranho encontro. Tinha a renda de casa em dia, estava paga a mensalidade à minha ex-mulher, há muito tempo que não insultava nenhum vizinho...Cobranças de dívidas ou polícia, estava fora de questão. "Bom dia"- apresentei-me. Sem quaisquer rodeios, perguntaram-me se podia provar ser quem sou, o que me fez suspeitar estar a ser alvo de algum exercício da Olimpíada da Matemática. Sorri. Mas, quando comecei a apresentar o meu raciocínio, interromperam-me bruscamente, ordenando para lhes mostrar o Bilhete de Identidade. Comecei a ficar preocupado. Enquanto procurava a carteira, voltei a fazer a revisão dos últimos tempos da minha vida com uma concentração tal que quase deixava passar a entrada da professora de Francês. Que mulher! Enquanto lhes estendia o BI, reparava no corte das calças, justas que baste para evidenciar a elegância das pernas, na cintura fina... “Vai ter que nos acompanhar”- disseram. Aí afinei. Não se apresentam, exigem ver a minha identificação e ainda me ordenam para os acompanhar. “Pois. Nós percebemos. A tipa é boa como o milho, mas não temos tempo a perder. O Grande Chefe quer falar consigo”. É lá! Uma convocatória do Grande Chefe não era coisa que se desrespeitasse. “Mas eu não entreguei o plano de aula para ser substituído”- argumentei. “Deixe-se de mariquices, que o Grande Chefe está à espera”. Saímos em passo acelerado, mas ainda pude ver como a professora de Francês sorria para o tipo de História. Não havia qualquer dúvida: aquele gajo não era boa rês.